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TRISTEZA EXATA

As pessoas gostam de dizer: "o segredo é não deixar que ela perceba que você está sofrendo" e que "olha, a pessoa só sente falta quando sente que perdeu". Ou seja, as pessoas pedem pra você mentir.

E aí você mente, sublima, disfarça e representa. Você engana a todos, ou melhor, a quase todos. Porque você nunca vai conseguir enganar a si mesmo. E aí é que entra o xis da questão. Vale a pena viver um dia a dia de mentiras só porque você tem medo da verdade? Será que ao fazer isso você está realmente sendo esperto, ou será que só está acabando mais ainda com as suas poucas chances de ser feliz?



Veja, eu estou feliz. Saio com os amigos e rio das suas piadas. Vou a festas e ando cantando pelas ruas. Mostro a todos que estou feliz e pronto. Mas, e aí? E depois? Quando as luzes se apagam, quando não tem mais ninguém pra enganar, ninguém que vá te julgar e principalmente quando aquela pessoa não estará lá para saber que: sim!!! Eureca!! Você sofre. Surpreendentemente, de forma surpreendente, você não é feliz. Ora!!! Mas cuidado, não deixe ninguém saber. Afinal, felicidade não se tem, se constrói e não se pode colocar tudo a perder. Não pode deixar a sua máscara sorridente cair revelando seus olhos vermelhos e o gosto salgado das lágrimas na sua boca.



Pois bem, pergunto eu, e se não houvesse o medo? E se o 'correto' fosse simplesmente dizer a verdade, deixar que todos saibam, e principalmente aquela pessoa saiba o que você sente de verdade? De verdade, não o que você aparenta ser nas suas fotos, ou nos seus vídeos ou até na música que você ouve. Se você simplesmente disser "Sim eu estou sofrendo, isso dói, e eu estou triste, não estou feliz". Pronto. Um curto desabafo, mas que certamente pode mudar tudo. A começar por você mesmo. Chega de personagens animados, inconseqüentes e ávidos a esquecer tudo de forma rápida e indolor. Chega disso. Agora você poderá ser você mesmo, e quem sabe, assim, não seja até feliz. Sim, porque talvez seja possível ser feliz, sendo triste. E sabe por que, porque é uma tristeza sincera, transparente. Uma ferida exposta, que todos podem ver, mas que você também pode ver, e acompanhar a cicatrização. Uma tristeza exata, mensurável e, acima de tudo, honesta.



Ora, então te aproxima da pessoa por quem sofres e diz: 'Sim, eu ainda te amo e sofro por não estar contigo a cada dia da minha vida'. Pronto. Está dito, sua posição nessa batalha está definida. Você não está mais em cima do muro, não é mais um agente duplo da situação. Caberá à outra pessoa decidir. E talvez estejam até certos, talvez por saber que você está ali, esperando, faça com que a pessoa não te valorize, ou não te queira naquele momento com a mesma certeza que tem um pássaro quando deixa o galho da árvore, mas sabe que o galho estará lá quando anoitecer, ou quando ele precisar. Porém, existe também outra possibilidade. Existe a chance da outra pessoa descobrir a verdade, que na verdade, ela achava que era mentira. De repente ela descubra que todo aquele desapego era encenação. E sabe o que é mais curioso? Que de repente ela esteja na mesma situação. Sublimando as mesmas coisas, escondendo a dor por trás de um sorriso radiante.



Mas, quer saber? Acho que isso é tudo maluquice da minha cabeça. O negócio é continuar sendo turrão, endurecendo o coração e mentindo deslavadamente. Afinal, se isso der errado, o máximo que pode acontecer é você morrer sem nunca ter dado a chance de a outra pessoa saber o que você realmente sentia.

Bruno Batista